domingo, 8 de outubro de 2006

Recuperar o futebol

É verdade que hoje ninguém viu futebol. Portugal - Azerbaijão (que se devia escrever com "E", ou seja, Azerbeijão) tinha obrigatoriamente de estar proibido em acta da FIFA. Porém, é meu dever trazer a beleza do futebol às primeiras páginas desta casa. Motivado pela discussão existente no Cafajeste, encontrei dois dados estatísticos de extrema importância:

- Para já, o Barcelona tem sempre bons jogadores começados por "R" - Romário; Ronaldo; Rivaldo; Ronaldinho. Passou por lá um Riquelme, por exemplo.

- O mais importante está relacionado com um destes jogadores. Rivaldo. O antigo jogador blaugrana, internacional canarinho, é capaz de ter sido o número 10 que marcou mais golos na história do futebol. Rivaldo celebrava uma bola no interior da baliza em todos os jogos. E, 90 por cento deles, de acordo com o Instituto Nacional de Estadística, eram marcados com remates fora da área.

A comprovar isto está a época 2000/2001 em que terminou a época com 23 golos.
Junte-se a este dado o facto de o último jogo desse ano ser um Barcelona-Valência que os blaugrana precisavam obrigatoriamente de ganhar para ir à Liga dos Campeões.

Rivaldo mostrou o porquê de ter sido um dos melhores jogadores que vi. Parecia sempre que ia perder a bola, tal a lentidão que aparentava. No entanto, tal não sucedia. Quem metia o pé levava cueca. Escorregava. Torcia os dentes. Tinha entorses nas orelhas. Nesse jogo, Rivaldo marcou os três golos da vitória. Claro está, com remates fora da área.

Pontificavam então na Catalunha nomes maus do futebol. Nou Camp tinha alguns problemas a pisar o tapete verde: Arnau; Reiziger; Abelardo; gente da família Boer; Nano; Reina; Zenden; Dani; Gabri; Dutruel; Gerard Lopez; Dehu. Anteriormente tinham estado Okunowo; Ruud Hesp; Ciric ou Bogarde.

17 de Junho de 2000. Rivaldo percebeu que só ele podia fazer alguma coisa por esse grande clube. Pediu pitons especiais. Disse a Carlos Rexach que naquele dia ia fazer o que lhe apetecesse. "Não me dês ordens!", disse, naquele túnel estreito de Camp Nou, com grades a separar as duas equipas. E assim foi. Com um equipamento lavado, camisola para fora dos calções, o rapaz do Recife entrou para dentro do campo. Aos 3 minutos faz o 1-0, num livre directo. A mostrar que queria resolver as coisas rápido.

Mas a equipa não ajudava. Reiziger estava a mascar palha. O Valência empata, por Ruben Baraja aos 25 minutos. Rivaldo mete as mãos na cintura, baixa a cabeça e sopra. "Vou ter de marcar outro, não é?", pensa para com os seus botões. "OK", diz confiante. O 10 vai à linha efectuar um lançamento lateral. Reiziger tinha trocado palha por ração. Rivaldo cruza para a área. Decorria o minuto 44, antes de ir beber água ao balneário. Kily Gonzaléz vem ajudar na meia-esquerda. A bola sobra para Rivaldo que com uma finta muito, muito devagar, põe o argentino a rodar toda a Rosa-dos-ventos e dispara, mais uma vez fora da área, para o fundo da baliza de Canizares.

Rivaldo sabia que não ia ser um segundo tempo fácil. E isso ficou comprovado, com Baraja a empatar novamente o jogo, logo no reatamento. Não podia sobrar para mais ninguém. O brasileiro sabia que tinha de fazer algo. E parecia que estava a guardar o coelho dentro da cartola até ao minuto 88. O placard assinalava o empate a dois golos. O Barcelona estava fora da Liga dos Campeões. É então que Rivaldo faz o pontapé de bicicleta mais rápido da história. Recebe de peito um passe de Frank De Boer e remata com mais rapidez do que eu levo o dedo ao nariz para remover um burrié. A bola vai redondinha e encostadinha ao poste esquerdo de Canizares. E de repente, com um golpe de magia, o Barcelona consegue ir à Champions.



BM

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